A doença no coração que levou o bebê de cinco meses do cantor sertanejo Cristiano, que faz dupla com Zé Neto, para a mesa de cirurgia é uma das cardiopatias congênitas (em que já se nasce com ela) mais comuns: a Tetralogia de Fallot é uma má formação no coração que atinge um a cada 3.600 recém-nascidos.

Segundo o Ministério da Saúde, a cardiopatia congênita está entre as causas frequentes de morte de bebês. O único tratamento da Tetralogia de Fallot é a cirurgia, realizada ainda na primeira infância.

Miguel foi diagnosticado antes do parto, mas os médicos esperaram os cinco meses de idade para que ele ganhasse peso, e a cirurgia fosse feita de forma mais segura. O menino passou quase uma semana internado para se recuperar e teve alta no domingo (26).

A principal forma de diagnóstico é por meio de um ecocardiograma fetal, que, por lei, deveria estar à disposição de todas as gestantes, mas que ainda não é realidade em todo o Sistema Único de Saúde (SUS).

O que é a Tetralogia de Fallot

A Tetralogia de Fallot é uma doença congênita, ou seja, que se desenvolve quando o feto ainda está no útero da mãe.

Causada por uma combinação de quatro malformações cardíacas, ela altera a anatomia do coração, o que faz com que ele bombeie sangue pobre em oxigênio para o pulmão.

A doença acontece por uma mutação no momento da formação do coração do bebê, nas primeiras oito semanas de gravidez. Essa má formação gera quatro alterações com impactos desde os ventrículos até a aorta e distribui sangue com pouco oxigênio para o corpo.

— Gustavo Foronda, médico cardiologista do Hospital Albert Einstein

Em que momento a cirurgia deve ser feita?

O caçula de Cristiano, chamado Miguel, nasceu em junho deste ano, e a família contou nas redes sociais que ele tinha sido diagnosticado com a doença três meses antes, ainda durante a gravidez.

Miguel chegou a ficar na UTI após o parto, mas acabou indo para a casa porque o quadro não era considerado tão grave.

Segundo os médicos, podendo esperar, é preferível aguardar que a criança tenha entre 3 e 6 meses de idade e esteja com mais peso para fazer a cirurgia com mais segurança.

“A gente costuma esperar a criança ter idade entre três e seis meses para que possa ganhar peso para passar por um processo como esse. No entanto, isso pode mudar a depender da gravidade da má formação”, explica a cardiologista pediátrica especializada pelo Incor Marina Berlinger.

Como é a recuperação

Segundo os médicos, após a recuperação da cirurgia, a criança tem uma vida normal.

No entanto, quando adulta, na maior parte dos casos, é preciso uma nova cirurgia, para o reparo da válvula pulmonar, readequando o fluxo de sangue do ventrículo direito para os pulmões.

Essa etapa é menos invasiva, feita por cateterismo (que é um procedimento médico que envolve a inserção de um cateter em um vaso sanguíneo do punho ou da virilha que vai até o coração para diagnosticar e tratar condições cardíacas).

Diagnóstico precoce é imprescindível

Os médicos explicam que é essencial o diagnóstico precoce, ainda na gestação, para que a equipe de atendimento do parto possa se preparar na hora do nascimento.

Assim como no caso de Miguel, que nasceu e foi para a UTI e havia uma equipe pronta caso fosse necessária uma cirurgia ainda com dias de nascido, todos os bebês que nascem com essa má formação precisam desse suporte.

O diagnóstico é feito, principalmente, por ecocardiograma fetal, que avalia o coração da criança para identificar anomalias.

Sintomas da Tetralogia de Fallot

A cardiologista Marina Berlinger, que atende no SUS, explica que, caso não haja o diagnóstico ainda no hospital, os pais devem ficar atentos a alguns sinais, como:

  • pele arroxeada, especialmente mãos e pés;
  • a criança costuma ficar roxa ao fazer um esforço físico;
  • cansaço e sonolência.

Para o bebê que nasce sem diagnóstico, os principais sintomas são as mãos e pés arroxeados. Além disso, a criança costuma ficar roxa tanto ao fazer esforço como ao chorar ou evacuar. E também é possível notar que ela se cansa com mais facilidade, é uma criança sonolenta.

— Marina Berlinger, cardiologista

Exame no SUS

No Brasil, desde junho deste ano, a oferta do exame de ecocardiograma fetal pelo SUS para gestantes se tornou obrigatória a partir de uma lei aprovada no Congresso.

No entanto, o que os médicos explicam é que isso ainda está distante de ser acessível a todas as grávidas como parte do pré-natal.

É lei, mas, na prática, não acontece porque não tem estrutura para oferecer o exame para todas as gestantes. É uma doença fácil de diagnosticar com o exame, mas ele precisa ser uma realidade para todas.

— Gustavo Foronda, médico cardiologista do Hospital Albert Einstein

A médica cardiologista Marina Berlinger, que atende no SUS, também afirma que o exame não está disponível a todas as mães. “A gente sabe que é lei, mas não é esse o cenário, infelizmente”.

Procurado, o Ministério da Saúde disse que o exame é ofertado no SUS, mas para casos em que há evidências de anomalias, sob indicação médica. A pasta informou ainda que “atua para ampliar o acesso ao exame durante o pré-natal em toda a rede”.

No estado de São Paulo, por exemplo, onde moram o cantor e sua família, a Secretaria Estadual de Saúde informou que há apenas 21 centros de saúde com o equipamento para o exame.

Eles ficam nas cidades de Mogi das Cruzes, Francisco Morato, São Paulo (capital), Araçatuba, São Carlos, Praia Grande, Santos, Barretos, Atibaia, Sumaré, São José do Rio Preto, Votuporanga, Sorocaba e São José dos Campos.

Em laboratórios particulares, o preço do exame varia, mas pode custar, em geral, de R$ 200 a R$ 400.

Fonte: G1

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