As obras do primeiro centro de pesquisa do país destinado à produção de proteína cultivada, também chamada de “carne de laboratório”, tiveram início na última semana em Santa Catarina. A unidade ficará no espaço do complexo de inovação Sapiens Parque, no Norte da Ilha, em Florianópolis.

O projeto é liderado pela gigante JBS, maior produtora de carnes do mundo. O centro, batizado de JBS Biotech Innovation Center, promete ser o maior centro de pesquisa de biotecnologia dos alimentos do Brasil. O investimento estimado pela empresa nas primeiras fases do projeto é de 22 milhões de dólares (R$ 110 milhões, na cotação atual), incluindo a obra civil, a compra de equipamentos para a implantação dos laboratórios e da estrutura piloto de produção. A previsão de inauguração é no segundo semestre de 2024.

O que é a carne de laboratório?

Mas o que é a proteína cultivada ou a “carne cultivada em laboratório”? Trata-se de uma forma alternativa de produzir proteína a partir do cultivo de células de animais.

A produção da proteína cultivada é feita a partir do isolamento de células de um animal, coletadas de uma amostra do tecido de um boi, por exemplo. As células isoladas são cultivadas pelos cientistas em equipamentos chamados biorreatores, onde sob condições controladas são alimentadas e se multiplicam, formando uma biomassa de proteína.

A inovação é considerada fundamental para garantir a oferta de produção de carnes perante o aumento da população e da demanda por proteína. Segundo dados da World Resources Institute, o consumo de proteínas no mundo deve aumentar 70% até 2050. A projeção faz o mercado buscar alternativas, com proteínas tradicionais, à base de planta e, agora, a carne cultivada.

Como a carne cultivada será vendida

Quando estiver em fase comercial, a proteína cultivada que será produzida pela JBS na fábrica erguida em Santa Catarina chegará inicialmente aos consumidores na forma de alimentos preparados, como hambúrgueres, embutidos, almôndegas, entre outros.

A empresa assegura que os produtos que chegarão ao consumidor “terão a mesma qualidade, segurança, sabor e textura da proteína tradicional”. A tecnologia tem potencial não apenas para a produção de proteína bovina, mas também para a de frangos, suínos e pescados.

Segundo a empresa, o maior desafio no momento é tornar o processo de produção da carne cultivada mais eficiente, escalável e competitivo economicamente. É neste contexto que o primeiro centro de pesquisa e desenvolvimento que começa a ser construído em Santa Catarina poderá auxiliar.

A estrutura contará com uma equipe científica de 25 pós-doutores, especialistas em diversas áreas, além de equipes de outros setores e de apoio administrativo. A construção começou na semana passada, com obras de terraplanagem. O centro de pesquisa de “carne de laboratório” em Santa Catarina terá, neste primeiro momento, 10 mil metros quadrados, mas a área permite expansão para futuros projetos.

A equipe de cientistas do JBS Biotech Innovation Center já iniciou as atividades em instalações temporárias dentro do Sapiens Parque. Atualmente, segundo a empresa, o foco dos estudos está no entendimento das células das espécies bovinas, por meio de pesquisas exploratórias, para estabelecer futuramente a produção de proteína bovina cultivada.

“Novo mercado que está surgindo”

O presidente do Sapiens Parque, Eduardo Vieira, afirma que o potencial de Florianópolis para inovação e para atrair mão de obra especializada até mesmo de outros países contribuiu para a escolha da cidade para receber o novo centro de pesquisa. Depois do anúncio da JBS, outras startups de proteína cultivada e alimentos à base de plantas também já fizeram contato, interessados em se instalar no Sapiens Parque.

— É um novo mercado que está surgindo cada vez mais forte. Existe apelo tanto do lado ambiental, porque hoje para comercializar proteína você tem que fazer cultivo de animal, que contribui para a produção de metano, e utilizar áreas muito grandes para a pecuária, quanto pelo fato de permitir que o acesso à proteína seja mais democratizado, já que hoje existe deficiência na produção de proteína no mundo — avalia Vieira.

Estão à frente do projeto os doutores Luismar Marques Porto, presidente da Divisão de Carne Cultivada e do JBS Biotech Innovation Center, e Fernanda Vieira Berti, vice-presidente do Centro de Pesquisa.

— Para nós, é motivo de grande satisfação fazer parte da primeira iniciativa desse porte no Brasil e, ainda, poder contribuir com estudos para a expansão do setor. Sem dúvida alguma, esse projeto se tornará uma referência internacional — afirmou Porto, em material de divulgação da empresa agropecuária.

Outros investimentos em carne cultivada

O projeto em Florianópolis tem ainda uma terceira fase, que deve receber investimento de mais 40 milhões de dólares (cerca de R$ 200 milhões). Ela será destinada à construção de um módulo em escala industrial para demonstração da viabilidade técnico-econômica da proteína cultivada. O projeto deve servir como modelo para possíveis plantas de produção de carne cultivada da empresa a serem criadas futuramente pelo mundo.

Além do projeto em Florianópolis, a JBS também investe em pesquisas em proteína cultivada na Espanha. A companhia é acionista controladora, com 51% de participação, da Biotech Foods, empresa espanhola que é uma das líderes europeias no setor e que opera atualmente uma planta piloto em San Sebastián, na região Basca. A estrutura será a primeira do mundo e deve ser concluída em meados de 2024. Quando finalizada, a unidade poderá produzir mais de mil toneladas de proteína cultivada por ano, podendo chegar mais tarde a até 4 mil toneladas anuais.

Esta é uma matéria que tem como fonte o site da NSC

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