Moradores da comunidade Monte Cristo, em Florianópolis (SC), tiveram suas casas invadidas e destruídas após o rompimento de um reservatório da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan), na madrugada desta quarta-feira (6). Duas pessoas ficaram feridas. A Polícia Civil informou que irá abrir um inquérito para apurar as causas do ocorrido.
Esse é o segundo rompimento de reservatório da estatal registrado na capital catarinense em menos de três anos. Em 25 de janeiro de 2021, uma lagoa artificial de infiltração da Estação de Tratamento de Esgotos da Lagoa da Conceição (ETE) derramou mais de 100 milhões de litros de matéria orgânica no bairro Lagoa da Conceição.
Até o momento, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública de Florianópolis, são 85 residências afetadas pelo acidente desta quarta-feira, sendo que 15% delas apresentam danos estruturais graves e incapacitantes, e 90 famílias atingidas.
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), no entanto, aponta que o rompimento atingiu cerca de 200 famílias. O número “passa flagrantemente de 90 famílias”, afirma Rodrigo Timm, integrante da coordenação do MAB.
Segundo a Casan, cerca de dois mil metros cúbicos de água vazaram na rua Luís Carlos Prestes. A empresa informou, em nota, que equipes da companhia, além da Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e Polícia Militar prestam assistência às famílias e avaliam os danos materiais.
O reservatório funciona há dois anos e atende 80 mil pessoas na região. Mesmo com o rompimento, a empresa disse que não há risco de descontinuidade no abastecimento de água. No município, há outros 20 reservatórios.
Nas redes sociais, o governador Jorginho Mello (PL) afirmou que determinou a apuração das causas. “Fui informado nessa madrugada pelo presidente da Casan sobre o rompimento do reservatório no Monte Cristo. Determinei que todos os esforços fossem direcionados na apuração precisa das causas e no atendimento à população afetada”, publicou.
O deputado estadual Marquito (PSOL) publicou em suas redes sociais que os moradores atingidos estão sendo levados para uma igreja local. O parlamentar também destacou que não se trata de um episódio inédito.
“Toda nossa equipe, das mais diferentes áreas, está se mobilizando para auxiliar a população nessa tragédia. A água invadiu diversas casas da comunidade Monte Cristo, em Florianópolis (SC), deixando feridos e imóveis destruídos. Já são mais de 300 barragens com histórico de violação de direitos humanos no estado”, pontuou.
O rompimento da lagoa artificial de infiltração da Estação de Tratamento de Esgotos da Lagoa da Conceição (ETE), em 2021, liberou mais de 130 milhões de litros de matéria orgânica, sendo considerado o maior desastre ambiental de Florianópolis.
Além dos desabrigados, o episódio deixou as águas da tradicional Lagoa da Conceição com nível de oxigênio perto de zero – conforme monitoramentos do Laboratório de Ficologia, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Um mês depois, em fevereiro, peixes e crustáceos apareceram mortos na Costa da Lagoa, reduto da pesca na região.
De acordo com a Casan, o rompimento da barragem foi um acidente provocado pelo excesso de chuvas. Dias antes do desastre, técnicos da empresa visitaram o local, após denúncias de rompimento parcial da estrutura por parte de moradores. As providências, no entanto, não foram tomadas.
Segundo o MAB, 70 famílias foram atingidas pelo rompimento em 2021. “O MAB vem denunciando a situação das barragens e reservatórios em geral de água em Santa Catarina e no Brasil inteiro. Não há ainda uma política estadual dos direitos para as comunidades atingidas. Não há também uma política nacional. A gente percebe que é raro os reservatórios, as barragens e as represas possuírem sistemas de emergência, sistemas de contingência, sistemas de alarme, e também planos de evacuação”, afirma Rodrigo Timm.
O Brasil de Fato questionou a Casan sobre a presença de sistemas de emergência, alarme e contingência e planos de evacuação para a região nos reservatórios da empresa. Até a publicação desta reportagem, no entanto, não houve uma resposta.
“Infelizmente, inúmeras famílias convivem próximo a esses empreendimentos, não sabem que são vizinhas de reservatórios e barragens que possuem grande dano potencial associado e que só descobrem isso quando a água invade suas casas”, diz o integrante do MAB.
“Privatização não é a solução”
A despeito do rompimento registrado nesta quarta-feira (6), Rodrigo Timm é contra a privatização da Casan, que hoje é uma empresa pública de economia mista e de capital aberto, que atua como concessionária do setor de saneamento. O integrante do MAB afirma que, mesmo nesse modelo, há uma postura “privatista” na gestão da empresa.
“A gente sabe que os grupos que pleiteiam a privatização dos serviços públicos utilizam desses rompimentos para pautar a privatização, quando, na verdade, a privatização não é a solução. Os gestores que hoje ocupam cargos políticos da administração pública da Casan agem com uma postura privatista. Possivelmente vão ser os próprios gestores da Casan que vão assumir cargos nessa nova empresa privada, se um dia vier a ser privatizada”, afirma.
“Não somos a favor da privatização da Casan. Pelo contrário, a gente defende o controle público das empresas de água e energia. Um controle público efetivo, no sentido de fiscalização de políticas públicas garantem esses parâmetros muito melhores nesses pontos”, conclui.
Fonte: Brasil de Fato