Nos últimos dias, o Brasil inteiro parou para entender o que é, como funciona, e quem regula as cirurgias de transplantes de coração no país. O pontapé para o interesse veio após o apresentador Faustão, realizar a cirurgia após apenas uma semana na fila. 

De acordo com o cirurgião cardiovascular do Hospital de Caridade e do Baía Sul, Lindolfo Moratelli Filho, o primeiro desafio após a cirurgia é a recuperação hemodinâmica, que de forma simples, se refere à restauração ou estabilização das condições do sistema circulatório do corpo. Ou seja, o desafio é colocar o sistema circulatório de volta nos trilhos para garantir que o corpo esteja recebendo oxigênio e nutrientes de maneira adequada.

“Passada essa etapa das primeiras horas de cirurgia, outro grande desafio é a rejeição do órgão, uma das principais causas de mortalidade nos pacientes pós transplante cardíaco”, explica.

Depois de vencidas essas etapas, o paciente precisa passar pela recuperação pós operatório de uma cirurgia cardíaca convencional, ou seja, nos primeiros dias é preciso estar no hospital para recuperação com fisioterapia, além dos cuidados com a ferida operatória.

“O acompanhamento dos pacientes transplantados tem que ser periódico, feito mais de perto do que outras cirurgias cardíacas, uma vez que inúmeras complicações podem surgir. Apesar da possibilidade de complicações, cerca de 80 % dos pacientes sobrevivem no primeiro ano. Não há estimativa de sobrevida a longo prazo, mas há relatos na literatura de pacientes com 20 anos pós transplante cardíaco”, diz.

Recuperação de Faustão

Após passar por um transplante do coração, o apresentador Fausto Silva, conhecido como Faustão, foi extubado na manhã desta terça-feira (29) e está respirando sem auxílio de aparelhos. A informação é do boletim médico divulgado pelo Hospital Albert Einstein, onde o apresentador está internado.

O hospital divulgou ainda que o apresentador está consciente, conversa normalmente e apresenta boa função do coração. Apesar disso, ele segue internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Como funciona a fila para o procedimento?

A lista para transplantes é única e vale tanto para os pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde) quanto para os da rede privada. A lista de espera por um órgão funciona baseada em critérios técnicos, em que levam em conta fatores como a tipagem sanguínea, compatibilidade de peso e altura, compatibilidade genética e critérios de gravidade distintos para cada órgão. É assim que os profissionais determinam a ordem de pacientes a serem transplantados.

Quando os critérios técnicos são semelhantes, a ordem cronológica de cadastro, ou seja, a ordem de chegada, funciona como critério de desempate. Pacientes em estado crítico são atendidos com prioridade, em razão de sua condição clínica.

O Brasil tem o maior sistema público de transplantes de órgãos no mundo. A estrutura é gerenciada pelo Ministério da Saúde, que assegura que cirurgias de alta complexidade sejam realizadas para pacientes da rede pública e privada, em situação de igualdade.

Para prevenir fraudes, a fila é gerenciada por meio de um sistema (como os de um inteligência artificial, por exemplo). Apesar de gerenciado pelo Ministério da Saúde, com a ajuda dos Estados, não é possível saber o nome, renda e posição na fila de todos os pacientes. Isso é feito para evitar que alguém seja passado na frente de outra pessoa.

O processo envolve alguns passos gerais:

  • Cadastro e Avaliação: Pacientes que necessitam de transplante são cadastrados em uma lista de espera. A seleção é baseada em critérios médicos, como gravidade da condição, compatibilidade do órgão, tempo de espera e outros fatores de saúde. A avaliação é feita por uma equipe médica.
  • Registro de Órgãos Disponíveis: Quando um doador falece ou é declarado com morte cerebral e autorizado para doação de órgãos, os órgãos disponíveis são registrados em um sistema que notifica os centros de transplante sobre a disponibilidade.
  • Compatibilidade e Aviso: Com base na lista de espera e na compatibilidade com o órgão do doador, os pacientes adequados são notificados. A equipe médica avalia a compatibilidade e a condição dos pacientes na lista.
  • Definição do Receptor: A equipe médica seleciona o receptor do órgão com base em critérios médicos e de compatibilidade. Essa decisão é tomada em colaboração com a equipe de transplante e o paciente.
  • Transplante e Acompanhamento: O transplante é realizado no receptor selecionado. Após o procedimento, é crucial monitorar a saúde do paciente e garantir que o órgão seja aceito pelo corpo.
  • Avaliação Contínua: O processo de seleção e transplante é contínuo, com a lista de espera sendo atualizada conforme a disponibilidade de órgãos e a condição dos pacientes.

Embora tecnologias de TI possam ser usadas para ajudar a gerenciar os registros e a comunicação entre os centros de transplante, a decisão final de seleção do receptor ainda é baseada em avaliações médicas complexas e em critérios éticos e clínicos.

Santa Catarina lidera doação de órgãos no Brasil

Pela 14ª vez nos últimos 18 anos, o estado está na liderança no ranking nacional de doadores de órgãos para transplantes. Nos outros quatro anos ocupamos a segunda posição.

De acordo com a SES/SC (Secretaria da Saúde de Santa Catarina), o Estado já realizou 57 transplantes cardíacos desde 2000. Só neste ano, foram feitos cinco transplantes. Atualmente não há pacientes na lista de espera da SC Transplantes.

O tempo de espera médio varia de acordo com o tipo sanguíneo do receptor. De acordo com a Central, 30% dos pacientes foram transplantados com menos de um mês de espera, 33% aguardaram menos de 90 dias e o restante a espera foi por um período maior.

Segundo Joel de Andrade, coordenador da “SC Transplantes”, Santa Catarina tem um número considerável de corações doados.

“Primeiro é verificado entre os pacientes da lista estadual se o coração doado é compatível. Se não for, o órgão é enviado para os pacientes de outros estados próximos, como Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo”.

Mas para que haja transplante de órgãos é necessário um programa sólido com o apoio da população catarinense.

“Estamos há mais de 20 anos aprimorando o sistema de doação e transplante de órgãos catarinense com capacitações constantes para as equipes profissionais e coordenadores de transplantes do estado. A solidariedade do povo catarinense é fundamental para seguirmos alcançando excelentes resultados”, finaliza o coordenador.

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