Após o ataque que matou quatro crianças em uma creche de Blumenau, na quarta-feira (5), muitas pessoas, sobretudo mães e pais de alunos do ensino infantil, passaram a compartilhar uma espécie de luto coletivo, segundo a psicóloga Arieli Grodd (leia mais abaixo).
Especialista em luto e intervenções psicológicas em emergências, ela explicou ao g1 SC que, nesses momentos de comoção coletiva, é importante acolher os próprios sentimentos, mesmo que sejam de medo e insegurança.
Ela destaca que não é possível mensurar ou comparar a própria dor com o que sentem as famílias que perderam seus filhos. “Mas a gente pode, sim, pensar em pessoas que são atingidas de forma primária, secundária, ou de forma direta ou indireta”.
“Ela [a comoção coletiva] vai mobilizar cada um de nós de forma mais intensa ou menos intensa, na medida que cada um se identifica mais ou menos com a situação. Muito provavelmente, pais de crianças pequenas estão mais mobilizados”, contextualiza.
Segundo a psicóloga, muitos pais relataram a ela o medo de deixar seus filhos na escola, por exemplo, após o ataque.
Como aliviar os medos
Segundo a psicóloga, o primeiro passo é reconhecer e nomear os sentimentos, “sem julgamentos”.
“Acolher [o sentimento] realmente. Dizer: ‘hoje eu estou com medo’, ‘hoje eu estou muito insegura, ‘hoje pra mim foi muito difícil deixar a minha filha, o meu filho na escola’. Não se julgar por isso”, diz.
Além disso, falar sobre o assunto é peça fundamental. Grodd orienta que, aliado ao acompanhamento psicológico, pais busquem compartilhar emoções e vivências em grupos de pessoas que vivem a mesma realidade deles.
“O sentimento de pertencimento tende também a ser um fator protetivo e de prevenção pra maiores desdobramentos dessas emoções”, explica.
Importância do vínculo
No caso de pessoas que passaram por algum trauma, como as crianças que vivenciaram o ataque de Blumenau, Breves destaca a importância dos vínculos afetivos.
Segundo o Hospital Santo Antônio, quatro das cinco crianças feridas no ataque a uma creche em Blumenau, quando outras quatro foram mortas, receberam alta médica no fim da manhã desta quinta-feira (6). Como as crianças já conviviam na escola, a unidade decidiu mantê-las no mesmo quarto.
“O caminho é o vinculo. É justamente poder facilitar a relação entre essas crianças, entre esses pais, entre os professores que estavam, poder falar. É pela força do vínculo afetivo que as pessoas vão conseguir, devagarinho, se reerguerem e adquirirem confiança”, diz a profissional.
“É como se você pegasse um cristal, quebrasse e ele se esfarelasse. Como vai colar isso, no ponto de vista emocional? Só com muita paciência, carinho, bom senso e muito afeto. Muito acolhimento”, completa.
Fonte: G1