Todos nós temos a certeza de que um dia, inevitavelmente, iremos morrer. Porém, a morte continua sendo um dos maiores mistérios da humanidade. Há construções religiosas, culturais e filosóficas que estimam o que podemos encontrar do outro lado, mas também existe a ciência que pode explicar o breve momento que chamamos de “entre a vida e a morte”.
A morte do ponto de vista neurológico
Com base nos estudos neurológicos (cerebrais), no momento da morte o sistema nervoso central deixar de funcionar permanentemente, não podendo ser revertido. Dependendo das causas do evento, o organismo responde de maneiras diferentes, como numa morte lenta, onde os órgãos vão parando lentamente e o corpo tende a preservar por mais alguns momentos o cérebro, coração e os rins.
Em causas não neurológicas, o médico neurologista Felipe Chaves Duarte, do hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, explica o que acontece : “Quando um paciente morre por causas não neurológicas, lentamente há uma perda da regulação da pressão arterial dos vasos da cabeça, com redução do aporte de oxigênio e glicose. Com isso os neurônios entram em morte celular por hipóxia, que é a falta de oxigênio, e ocorre uma isquemia das células neuronais. Elas extravasam seu conteúdo para o meio ao redor das célula e param de funcionar.”
Mas, o que podemos sentir no momento da morte?
“Um trabalho chamado Aware, publicado em 2014 na revista Ressuscitation, entrevistou 101 pacientes que tiveram uma parada cardíaca e foram salvos por tratamento médico. Quase a metade relata não lembrar de nada. Pouco mais de 40% relatam memórias detalhadas, como ver plantas ou pessoas ou sentir um medo intenso. Cerca de 9% relatou fenômenos compatíveis com experiências de quase morte.
Em um outro estudo, publicado no periódico científico Frontiers in Aging Neuroscience, pesquisadores conseguiram analisar, pela primeira vez, imagens de um cérebro exatamente na hora da morte. O paciente, de 87 anos, tinha epilepsia e estava realizando um exame de eletroencefalografia quando teve um ataque cardíaco fulminante. No estudo, foi possível captar instantes antes e depois do momento da morte desse paciente. O que se notou é que 15 segundos antes e depois houve oscilações gama. Então acaba sendo um ritmo de funcionamento eletroencefalográfico bastante alto, com mais de 32 hertz de frequência. Responsáveis pela atividade sincronizada dos neurônios, as ondas gama também são associadas a fatores como a memória, meditação e aos sonhos humanos. “Isso mostra uma possibilidade para aquela ideia que a gente tem de que no instante da morte, antes de fato da consciência ir embora, a gente passa por um momento de superconsciência, em que memórias de muita relevância, principalmente emocional, são acionadas, como se passasse um filme da sua vida mesmo. Não dá para provar isso, mas do ponto de vista elétrico isso faz sentido”, diz Gomes.
O neurocientista afirma que, em alguns contextos, torna-se difícil vivenciar qualquer tipo de sensação, como em mortes súbitas ou com extrema dor: “Em casos de morte súbita, é muito difícil interpretar no plano consciente o que está ocorrendo por que o sistema nervoso central simplesmente deixa de funcionar e a consciência se apaga. Por outro lado, em situações onde existe sofrimento envolvido, o indivíduo acaba perdendo a consciência e desmaiando por dor. Existe a liberação de neurotransmissores que podem provocar uma certa sensação de conforto, de analgesia e de bem estar. Talvez isso represente um mecanismo para que a experiência não seja totalmente dolorosa”
A sensação de que se está experimentando uma experiência fora do corpo existe durante padrões interrompidos de sono, como a paralisia do sono, em que a pessoa está dormindo mas ainda está ciente do mundo externo. Existe uma região do cérebro entre os lobos temporal e parietal que, quando estimulada, pode causar uma sensação artificial de se estar fora do corpo. “Uma possível explicação para a sensação de estar entrando em um túnel de luz acontece quando existe uma queda de pressão nos vasos que irrigam a retina, que ocorre durante paradas cardíacas”, aponta Duarte.
Emoções positivas como euforia e aceitação também são comuns em descrições de experiências de quase morte.”
Informações: CNN Brasil